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Viagem ao reino do meio

O texto a seguir é o relato em primeira pessoa de um brasileiro que recém voltou do extremo oriente em viagem da Missão Horizontes. Mesmo não se tratando de uma iniciativa de Portas Abertas, o projeto é importante para a Igreja Brasileira e por isso deve ser repercutido.

Na viagem, esse irmão encontrou irmãos da China e da Coréia do Norte e seu testemunho é expressivo das condições em que vive nossa família cristã daqueles países. Para saber mais sobre os países veja neste site em "Perfis de Países".

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Meu nome é Raul Nogueira.

Deus, em sua misericórdia, tem me  permitido participar de sua obra há vinte e seis anos. Nestes últimos anos, tenho, com minha amada esposa Graça, preparado missionários  para atravessarem as fronteiras da Ásia. Somos  os responsáveis pela Base Asiática - Ministério LVO (Luz e Vida a Orientais), da Missão Horizontes, situada no bairro oriental de São Paulo, a Liberdade.

Tivemos o privilégio recente, de entrar na China, indo até as portas da Coréia do Norte e da Rússia. Esta oportunidade que o Senhor nos deu, foi sem dúvida a que mais marcou minha vida, até agora, desde que aceitei o chamado do Senhor Jesus Cristo em janeiro de 1979.

Líderes de importantes ministérios foram conosco.

Foi uma experiência maravilhosa, junto a um povo que nos acolheu com muito carinho.

Creio que as informações que eu e os demais trouxemos, quebrarão muitos paradigmas sobre aquele país. A visão sobre aquele campo carece de atualizações. Tenho a certeza que, em muitos detalhes,  estamos atrasados em pelo menos dez anos.

Desde o início da viagem, o inimigo atuou para nos desestruturar. Sofremos o primeiro ataque na hora do embarque. Até a  cia. Aérea,  rota e dia da viagem foram alteradas.

Tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente, personagens que encontrara somente em minhas leituras. Falei e recebi orações de homens e mulheres que viveram e vão morrer pregando o Senhor Jesus, independentemente das circunstâncias.

Jovens missionários, com o fogo do Senhor, confrontando, com muita ousadia, o sistema de seu país que teima em negar a existência de Deus. Testifiquei  um cristianismo  prático e não somente teórico e retórico. Muitos deles conhecem bem pouco, no entanto, vivem  muito, o pouco que conhecem.

Não poderei, pela  segurança dos nossos queridos irmãos que trabalham naquele campo, fornecer  nomes e locais, como gostaríamos.

Correr o interior da China, principalmente de trem, e conhecer o povo, foi desafiador. Encontramos  um povo trabalhador, educado, ordeiro, disciplinado e amável com os estrangeiros, e, "escancarados" para a mensagem da salvação. 

Nós brasileiros, devido ao futebol, somos  particularmente acolhidos. O esporte, como tem acontecido em outros países de difícil acesso ao evangelho, é a grande estratégia.

Participamos de muitos encontros com líderes da igreja subterrânea. Aliás, não gostam da maneira que nos referimos a eles, dizem  que pertencem às igrejas nos lares.

Entre as diversas experiências. Contarei a que mais me marcou neste projeto.

Fomos levados a um local, muito grande, perto da fronteira da Coréia do Norte. Não mencionarei o tipo de lugar, pois seria facilmente identificável. Um irmão, oriental de cidadania americana, é o responsável por este lugar. A temperatura havia caído e nevava muito.

Fora dos aposentos em que estávamos, a temperatura atingia a marca de -15º. O local serve como um dos pontos de treinamento e refúgio, em caso de perseguição de missionários coreanos.

 O irmão João, nome fictício,  que é o estrategista das operações de resgate, dos que atravessam a fronteira da Coréia para a China em busca de alimentos, nos contou como tudo ocorre.

A divisão entre os dois países é feita somente pelo rio. Nesta época ele está congelado. Os meses de janeiro e fevereiro  são os mais perigosos  para as operações. É o tempo em que o rio está mais congelado e o número de refugiados e também de soldados aumenta.

O primeiro  dia foi de grande impacto. Dois irmãos coreanos, missionários e participantes destas operações deram testemunho. São envolvidos nas igrejas ocultas. Oramos intensamente por eles e eles choraram muito.

No dia seguinte, estávamos no hotel e o grupo foi dividido. Uma parte foi falar com os líderes da cidade com à continuidade do projeto. Os demais voltaram ao lugar que estivemos no dia anterior. 

Alguém ouviu que teríamos uma surpresa naquela noite e mencionou que poderia ser um outro testemunho. No entanto, em meu coração veio que era algo muito mais sério. Senti que participaria de uma experiência marcante.

Chegamos e quando nos preparávamos para jantar,um dos líderes da igreja subterrânea, seu nome falso é Edu, entrou na sala em que estávamos e sem dizer o que ia acontecer, solicitou dois voluntários.

Deus, como já mencionei,  já havia colocado em meu coração que naquele noite  participaria de um tempo bem peculiar. Levantei minha mão seguido do pr. Lívio. Sabíamos que algo  ia ocorrer. 

Fomos informados que não haveria tempo para nós dois comermos. Saímos e entramos em um táxi. Três coreanos e dois brasileiros. A noite estava muito escura. Olhava pela janela e meu coração estava tranqüilo. Uma grande paz me invadia. A paisagem corria e meus pensamentos com ela.

O que estava para ocorrer já havia lido em livros. Era uma viagem secreta. O Edu começou a falar que iríamos participar de uma entrega de comida a uma das casas de refugiados da Coréia.

Contou que há três níveis de entrada ao longo do rio, onde cada uma delas tem diversos pontos com casa de igreja subterrânea. Quando o coreano sai, atravessando o rio, vem com muita fome.

A primeira casa que encontra é a dos missionários. Um cão dá o alerta que alguém vem pela estrada. O dono da casa sai ao encontro e o leva para dentro. A partir deste momento, três níveis de segurança entram em processo.

A palavra é pregada. São alimentados e medicados. Assistem ao filme Jesus e a um vídeo da Coréia do Sul. Porque enquanto estão na Coréia do Norte são informados que os do sul estão na miséria, quando olham o vídeo percebem a mentira do ditador.

Ficam dois dias. Os que rejeitam a palavra. voltam para seu país com um saco de arroz. Os que ficam interessados, vão para outra casa, mais para o interior da cidade. Ficam lá de uma semana a um mês.

Voltam, alguns salvos no Senhor Jesus,  com um saco de arroz. O terceiro grupo são os que se convertem e o fogo do Senhor invade suas almas. O alimento físico se tornam secundário. Vão para um terceiro nível.

Um dos lugares de treinamento era onde estávamos.  Um bom disfarce. Neste terceiro nível ficam de um mês até três meses. Quando voltam para seu país sabem dos riscos. Serão presos ou mortos caso sejam apanhados. Sua própria família poderá entregá-los.

Chegamos, em plena escuridão, a uma casa que ficava bem na saída dos refugiados. Ficamos aguardando as ordens para descer do carro. Felizmente, a neve e o mês, nos livraram da possível presença mais forte do exército.

 Janeiro e fevereiro são os meses mais perigosos. É quando o gelo está mais duro. Milhares de refugiados atravessam e são mortos ou presos. Os que escapam acabam sendo protegidos pelos chineses de origem coreana, crentes no Senhor Jesus.

Recebemos a ordem de sair e logo em seguida tivemos que voltar. O cão latiu. Tudo bem. Saímos novamente. No porta mala havia cinco sacos de arroz. Cada um de nós pegou um. Entramos em uma casa pequena. Não tinha móveis. Só um fogão e uma televisão. Dois níveis.

No mais baixo ficavam os sapatos. Dois coreanos de rosto brilhando e sorridentes nos receberam. Era o casal de missionários. Fomos levados para o interior. Ouvimos o testemunho deles. Tinham uma filha que pregava nas igrejas subterrâneas.

 Após uma de suas pregações, morreu de tanta tensão. Falaram que não se importavam em morrer. Iriam encontrar sua filha. Pediram para que orássemos por eles. 

Pedimos para que orassem por nós. O Edu não traduziu este nosso pedido pois, segundo falaram, eles eram diáconos. Só os pastores poderiam orar com imposição de mãos. Encerramos a visita. Participei da entrega de alimentos aos refugiados coreanos. Aleluia.

Orem pelas igrejas chinesas e coreanas.

Eles estão morrendo por causa do evangelho. Eles têm um evangelho vivo. Nós muitas vezes temos uma igreja de olhos secos. Eles se derramam diante do nosso Deus e vivem o que crêem.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/Outros/2005/04/noticia1774/


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