O ano de 2007 foi difícil para Orhan Ant. Servindo a Deus como missionário em Samsun, no Mar Negro, ele recebeu ameaças de morte e sua igreja foi apedrejada por diversas vezes. Os jornais locais o chamaram de agente estrangeiro. Um grupo de jovens tentou seqüestrá-lo quando voltava para casa. Seus pedidos por proteção policial foram ignorados.
Orhan não está só. Por toda Turquia cristãos sofrem ataques. Em janeiro de 2007, Hrant Dink, um editor de jornal de etnia armênia, foi morto a tiros em Istambul por um adolescente que o acusava de “insultar o sentimento turco”. Em abril, dois turcos e um alemão, todos eles evangelistas, foram assassinados em Malataya.
Seus assassinos os amarraram e torturaram antes de cortar suas gargantas. Em dezembro, um padre católico italiano foi esfaqueado por um adolescente em Izmir. Outro padre italiano fora morto a tiros em Trabzon em 2006.
Para muitas pessoas, os ataques acontecem por conta de um ultranacionalismo, combinado com a militância islâmica que varreu a Turquia. Adolescentes da região do Mar Negro que não encontram trabalho parecem abraçar essa causa com mais facilidade.
Cristãos no alvo
“A situação dos cristãos é crítica”, conta Husnu Ondul, presidente da Associação Turca pelos Direitos Humanos baseada em Ankara. Como outras pessoas, ele acredita que o deep state (uma coalizão informal e antidemocrática constituída por pessoas influentes na política e na vida pública na Turquia), que inclui alguns juízes, oficiais do exército e da segurança que precisam de inimigos para justificar suas ações, estão por trás dos ataques.
Pode parecer absurdo. Ainda assim, algumas evidências sobre os casos de Hrant e Malataya vazaram para mídia e apontam para uma conspiração entre os criminosos e oficiais corruptos dentro da polícia e do exército. As evidências também sugerem que a polícia de Istambul fora avisada sobre o assassinato do Dr. Hrant um ano antes de o fato acontecer.
“Por que a polícia de Istambul não fez nada para prevenir que o crime acontecesse?”, pergunta Ergin Cinmen, advogado da família Dink.
União Européia
O respeito pela liberdade religiosa dos não-muçulmanos é fundamental para a Turquia se ela quiser ingressar na União Européia. Leis proibindo cristãos de reformarem suas igrejas têm sido afrouxadas.
Apesar da oposição de eleitores religiosos, o partido governista, Partido Justiça e Desenvolvimento (AK, sigla em inglês), restaurou recentemente uma antiga igreja armênia no leste da Turquia. E as mensagens de inclinação anti-ocidentais têm sido banidas dos livros escolares.
Mesmo assim, os cristãos continuam sofrendo. O Primeiro Ministro, Recep Tayyip Erdogan, resiste aos pedidos para que o Seminário Ortodoxo Grego Halki, localizado em uma ilha de Istambul seja reaberto.
O seminário está fechado desde 1971. A Turquia se recusa em reconhecer o título ecumênico do patriarca ortodoxo grego, Bartolomeu I, líder espiritual de mais de 200 mil cristãos ortodoxos.
A ameaça da "cristianização"
O patriarca, cidadão turco leal ao seu país, foi lobista ativo pelo ingresso da Turquia na União Européia, mas isso apenas aumentou as suspeitas dos ultranacionalistas, que o acusam de tentar “cristianizar” a Turquia e de querer criar um estado no estilo do Vaticano no coração de Istambul.
Não importa que a Igreja Ortodoxa Grega em Istambul tenha diminuído para 4.000 membros, a maior parte deles é muito velho para acompanhar os filhos que saíram do país.
“Eles (os turcos) parecem não considerar a conquista da Constantinopla até que o patriarcado desapareça e todos os cristãos sejam expulsos”, sugere um restaurador de Istambul.
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