A resignação ao sofrimento é uma das formas de abuso da cruz. O cristianismo e a cultura ocidental domesticaram e estetizaram a cruz, que, na verdade, aponta para a questão do sofrimento, da tortura, do abuso e da morte “que o lixo da história acumula às nossas costas enquanto celebramos ordem e progresso”.
A admoestação é do teólogo brasileiro Vitor Westhelle, no livro “O Deus escandaloso”, que ele lançará na terça-feira, 15, na Escola Superior de Teologia (EST). Em conferência que apresentará no Simpósio Identidade Luterana, reunido em São Leopoldo dias 15 e 16, Westhelle falará dos usos da cruz e a prática da ressurreição, temas que também aborda no livro.
A cruz definiu o professor de Teologia Sistemática na Lutheran School of Theology, em Chicago, EUA, é o ruído que obstrui a comunicação de uma mensagem. “Atentar a essa voz é o que requer o terceiro mandamento, ou seja, a santificação do ócio, do sábado, a recusa do que o nega, o neg-ócio”, disse em entrevista para a Imago Comunicação.
“O Deus escandaloso”, descreveu o autor, é um livro que trata da presença de Deus não apesar, mas na profundidade do sofrimento humano e da própria morte. “Isso quer dizer que Deus não estava apenas na cruz de Jesus de Nazaré, mas encontra-se na cruz de cada um de nós”, afirmou.
A prática da ressurreição, prosseguiu, é o gesto de solidariedade com todas as vítimas que a história produziu e continua a produzir. “Esse gesto, essa prática inclui o lamento, a rememoração e até mesmo a indignação ante essa realidade”, definiu. Para Westhelle, o tema da cruz é a recusa de justificar a Deus em face do sofrimento ou de justificar o sofrimento como retribuição divina.
“Isso resulta inevitavelmente um derrotismo ou dolorismo como resposta a esse sofrimento e a essa dor que são formas típicas de abuso da cruz”, frisou.
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