Os cristãos ocuparam o Oriente Médio durante sete séculos antes do aparecimento do Islã e viveram por outros 14 séculos, sendo parte da civilização islâmica, ou sob a sua legislação. No entanto, jamais a situação dos cristãos atingiu um momento tão instável e difícil como nos últimos dois anos.
Hoje, o número de cristãos está caindo vertiginosamente, sobretudo em lugares como o Iraque e a Palestina. As estatísticas não são divulgadas, enquanto a Igreja tenta estimular os poucos remanescentes a permanecerem em suas terras e prosseguir em sua fé. Mas a realidade é que a taxa de emigração é muito alta, e mais e mais famílias tentam se evadir de um lugar que um dia chamaram de lar para uma nova terra, onde aspiram a proteção e segurança.
Há cerca de dois anos, a revista National Geographic dedicou uma grande parte de sua edição mensal para assinalar a queda dramática do número de cristãos no Oriente Médio. O nome da reportagem era: “Os fiéis esquecidos”. Infelizmente não foi dada a atenção devida aos fatos revelados pelas histórias reais, que descreviam a situação desesperadora que os cristãos estavam enfrentando. O que mais me impressiona é que, nesse período, a luta passou do “sentimento de ser uma minoria” para o “sentimento de ser um alvo”. Nos últimos dois anos, os cristãos no Oriente Médio simplesmente se tornaram os alvos de fanáticos, de homens-bomba suicidas, catequizados para purificarem suas nações dos infiéis.
Em outubro de 2007, Rami Ayyad (um membro da Sociedade Bíblica Palestina) foi sequestrado em Gaza ao sair da única livraria evangélica da Cidade de Gaza. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado num matagal e as marcas de tortura indicavam a brutalidade de seus assassinos. Um grupo da Al Qaeda, que atuava em Gaza, assumiu a responsabilidade por lançar bombas na livraria e matar Rami. No entanto, por se tratar de ação contra apenas um indivíduo, não mereceu manchetes.
Agressões maiores receberam mais divulgação, quando, por exemplo, os cristãos em todo o Oriente Médio compartilharam a agonia da noite de domingo, em 31 de outubro de 2010: o ataque à catedral católica de Nossa Senhora da Salvação, em Bagdá, no Iraque, que matou pelo menos 58 pessoas após 100 participantes da missa serem mantidos como reféns. Outra violência bem recente aconteceu na madrugada deste último Ano Novo, 20 minutos após a meia-noite, quando um carro-bomba explodiu em frente à Igreja Ortodoxa Copta, em Alexandria, no Egito, matando mais de 20 e ferindo mais de 75 cristãos presentes à vigília de Ano Novo.
Após incidentes como esses, as primeiras reações que eu percebo nos cristãos são de raiva e ódio. Sentimentos de ódio contra tudo que é muçulmano e um sentimento de traição que se revolve a cada vez que acontece um ataque. Mas também escuto ponderações deste tipo: “Nem todos os muçulmanos querem matar cristãos, são pouquíssimos os que têm esses pensamentos. A maioria nunca vai pensar desta maneira.” E escuto a voz de um muçulmano do Afeganistão que viu um pastor fanático ameaçando queimar o Alcorão: “Nem todos os cristãos são maus. Apenas esses poucos radicais.”
Nós deveríamos permitir que as ações pavorosas de uns poucos indivíduos comprometam a reputação de toda uma nação? É assim que as coisas têm sido, e o perigo é permitir que essas pessoas levantem mais barreiras de ódio e produzam enganos ainda maiores, como a disseminação da falsa notícia de que as religiões estão em guerra.
Ao contrário, eu exorto cada cristão árabe a permanecer com mais firmeza em sua terra e a desempenhar um papel mais ativo em sua comunidade. Nós precisamos lembrar uns aos outros, e ao povo em redor, que nossos ancestrais cristãos foram os primeiros a receber o Espírito Santo nesta terra, no Dia de Pentecostes, há pouco mais de 2 mil anos. Nós precisamos lembrá-los de que nossos antepassados exerceram um papel muito importante na construção do mundo árabe e seus fundamentos.
Os cristãos árabes foram, e ainda são, figuras influentes na saúde, na ação social, nas artes e na cultura do Oriente Médio – isto sem falar das muitas personalidades conhecidas historicamente nesta região, por sua criatividade, inventividade e imaginação. Como cristãos palestinos sob ocupação israelense por mais de 60 anos, nós aprendemos a resistir.
Hoje, o mundo pergunta como será o Oriente Médio sem cristãos. Enquanto muitos lutam para obter a resposta, outros tentam encontrar soluções. Uma observação é: “Um Oriente Médio sem a presença de cristãos não é mais um Oriente Médio árabe, mas apenas um Oriente Médio muçulmano.” Porém, como cristão árabe, eu me lembro das palavras de Jesus: Estas coisas vos tenho dito para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.
Nós somos chamados para ser corajosos, para cumprir nosso chamado para ser Sal e Luz nesta parte do mundo, neste momento particular da história: ser Luz, porque a escuridão é muito grande e porque devemos levar esperança ao mundo de desespero e dor à nossa volta; ser Sal, porque o sal conserva e nós devemos conservar o amor de Deus por meio da preservação do Seu Reino na terra, orando: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
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