Obedecendo à ordem do presidente Hugo Chávez de deixar as terras indígenas da Venezuela até o dia 12 de fevereiro, os últimos dois obreiros da Missão Novas Tribos (MNT) deixaram a área no fim da semana passada.
Eles se juntaram a outros membros da MNT em Puerto Ordaz, até a corte da Venezuela considerar o apelo da ordem de expulsão feito pela Novas Tribos. Isso pode levar meses.
O edito de Chávez, publicado na Gazeta Oficial em 14 de novembro, expulsou a MNT das terras indígenas - não da Venezuela.
"Não sabemos se a corte ou a Suprema Corte vai decidir que todos devam deixar o país imediatamente", disse Samuel Olson, uma pastor de Caracas, presidente do Conselho Evangélico da Venezuela.
Conforme Samuel, ainda não há muita informação. O governo de Chávez não informou o conselho evangélico se ele vai bloquear todos os futuros vistos missionários. Enquanto isso, as missões que utilizam obreiros especiais estão suspensas. "Eles estão nos enrolando para ver o que acontece".
Ao dizer que a igreja venezuelana pode ir adiante sem missionários, Samuel disse que eles seriam úteis em situações de especialização, como seminários.
No entanto, as minúsculas igrejas entre o povo indígena da nação serão imediatamente afetadas, com seus líderes indígena forçados a avançar rapidamente. A liderança em algumas áreas é subdesenvolvida, embora os missionários tenham treinado pastores e leigos indígenas nos quase 60 anos de ministério da MNT na Venezuela. Alguns tribais se tornaram profissionais treinados, Samuel afirma, e muitos são líderes capazes.
"Eu acho que, com o passar do tempo, eles vão encontrar seu caminho e continuar o trabalho. Precisamos orar por essas pessoas que vão assumir a liderança de seu povo. Eles devem tocar o barco."
'Infiltração Imperialista'
A partida dos missionários é o ultimo acontecimento em uma cadeia de eventos que envolveu plantação de igrejas e agências missionárias de tradução de Bíblia. Eles se desdobraram depois do apresentador evangélico norte-americano Pat Robertson dizer em seu programa de televisão que o governo dos EUA deveria assassinar Chávez para proteger os seus interesses petroleiros, e porque Chávez "tem destruído a economia venezuelana, e ele vai abrir espaço para que a infiltração comunista e extremistas muçulmanos cheguem em todo o continente".
Embora Pat tenha pedido desculpas depois, o governo de Chávez parou de dar vistos a missionários. O responsável por assuntos religiosos da Venezuela disse à agência de notícias Reuters que o governo já estava trabalhando na mudança, "mas esse fato nos fez apressar as coisas".
Em uma reunião televisionada no dia 12 de outubro, realizada em uma zona indígena, Chávez disse que expulsaria a MNT da Venezuela, afirmando que o ministério estaria ligado a Pat - e não está - e dizendo que a MNT é uma "verdadeira infiltração imperialista", usando além disso a expressão "colonialismo". O presidente também acusou a MNT de estar ligada à CIA, espiando a Venezuela e explorando o povo indígena.
Mais tarde o vice-presidente do país afirmou ter relatórios de que alguns obreiros da MNT eram espiões da CIA. A Novas Tribos afirmou que todas as acusações eram um absurdo.
Soldados e Antropólogos
Enquanto os missionários saíam de zonas tribais, o governo enviou os militares. Mas agora não há mais missionários que falem espanhol e as línguas tribais.
Samuel disse que os militares estão lá, mas eles não sabem se comunicar com aqueles povos, como os missionários faziam. "É uma situação muito estranha."
Provavelmente, ele acrescenta, agora os educadores e antropólogos "irão tomar o lugar dos missionários".
Os missiólogos e os antropólogos de missões notaram que mitos falsos sobre a ligação entre missionários e a CIA existem por décadas na América Latina, em especial entre os grupo evangélicos pioneiros, como o Instituto Summer de Lingüística e os Tradutores de Bíblia Wycliffe. Muitas, se não a maioria, das agências de missões proíbem seus obreiros de cooperar com governos que buscam informações.
Nita Zelenak, porta-voz da MNT, disse que os escritórios e os aviões da missão ficam na cidade de Puerto Ordaz. Os aviões da MNT levavam suprimentos para os obreiros mais distantes e transportavam missionários doentes e indígenas carentes de cuidados médicos avançados. Alguns trabalhadores da MNT viviam e ministravam há quatro décadas entre tribos remotas nas florestas tropicais da Venezuela, como os yanomami, os yuana e os maquiritare.
Ainda não se sabe muito sobre a permissão da MNT para continuar ministrando na Venezuela. Nita disse que a missão não sabe se as restrições serão para visitar as tribos ou se todo acesso será limitado a todos os missionários venezuelanos, seja qual for sua filiação.
Nem os missionários sabem o que vai ser de suas casas. Conforme Nita, "Não sabemos quantos missionários da MNT vão ir embora ".
Desde 1946, a MNT tem servido 12 povos indígenas da Venezuela através da tradução, alfabetização, plantação de igreja, ajuda humanitária e desenvolvimento de projetos comunitários. A maioria desses trabalhos foi realizada na região amazônica, fronteira com a Colômbia, mas também nos estados de Delta Amacuro e Bolivar. Nove grupos indígenas estabeleceram igrejas.
MNT completou cinco traduções da Bíblia; outras quatro estão em progresso. Trinta dos 160 missionários da MNT são venezuelanos. Os outros são dinamarqueses, colombianos, canadenses, australianos e ingleses. A maioria é norte-americana.
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