Encaminhada para o tribunal juvenil, Rimsha ainda corre o risco de ser condenada a sete anos de prisão. O caso atraiu a atenção de órgãos da imprensa internacional por se tratar de uma menina portadora de Síndrome de Down que, possivelmente, foi acusada sob provas falsas, de blasfemar contra o Alcorão
A menina cristã Rimsha Masih, portadora de Síndrome de Down, passou o sábado, 6 de outubro, escondida, em meio a temores de que ela enfrentaria anos de prisão no Paquistão por "blasfêmia contra o Islã", depois de testemunhas a terem exonerado, segundo expectadores do julgamento relataram.
Khalid Shahzad, diretor do Centro para Crianças Especiais Dorothea, da cidade de Lahore, disse à agência de notícias BosNewsLife que está preocupado com a situação de Rimsha, de 14 anos de idade.
"Três testemunhas que depuseram contra [o líder muçulmano] Hafiz Muhammed Khalid Chishti, afirmando que ele plantou provas para acusar a menina de blasfêmia e expulsar os cristãos do bairro, já retiraram o seu testemunho", disse Shahzad, que acompanhou de perto o caso.
Chishti afirmou que a jovem cristã, detida em 16 de agosto, havia queimado páginas que continham versos do Alcorão, considerado um livro sagrado pelos muçulmanos.
Na semana passada, a BosNewsLife informou que um relatório interino da polícia considerou a moça "inocente" de blasfêmia, baseado em depoimentos de testemunhas.
Rimsha foi libertada, em setembro, sob fiança de um milhão de rúpias paquistanesas (equivalente a 10.600 dólares americanos), mas "se o caso contra Chishti for julgado improcedente por falta de provas, é possível que o processo contra a cristã avance", explicou Shahzad.
Presa por quanto tempo?
"Um caso de blasfêmia poderia resultar na prisão de Rimsha por muitos anos", alertou Khalid Shahzad. Desde que foi encaminhada para o tribunal juvenil, Masih enfrenta uma pena máxima de sete anos de prisão.
Se ela tivesse sido julgada como adulta, ela poderia ter sido condenada à prisão perpétua ou até mesmo enfrentar a pena de morte.
Houve relatos de que ela e sua família já haviam fugido para a Noruega. O Ministério de Relações Exteriores e autoridades de imigração, porém, não confirmaram essa informação.
A garota deixou claro que prefere permanecer no seu país, mas ativistas de direitos cristãos dizem que seria perigoso. "Mesmo que Rimsha não enfrente julgamento, ela nunca será capaz de retornar ao bairro onde morava", acrescentou Farrukh H. Saif, diretor-executivo do grupo de direitos humanos World Vision In Progress, baseado no Paquistão.
Rimsha é inocente
Khalid Shahzad, cujo trabalho inclui uma escola para crianças com problemas mentais e um banco de alimentos para cerca de 200 viúvas cristãs, está convencido da inocência de Rimsha.
"Se Chishti não for punido por acusar falsamente uma menina com deficiência mental e menor de idade, este caso vai reforçar o clima crescente de impunidade com consequências graves a longo prazo, para a comunidade cristã", alertou.
Os cristãos representam menos de cinco por cento da população de maioria muçulmana do Paquistão, de 180 milhões de pessoas, segundo várias estimativas.
Grupos da Igreja afirmam que cristãos têm sido cada vez mais alvo de militantes e seus apoiadores. Autoridades da União Europeia manifestaram preocupação com a situação e pediram ao Paquistão para combater as controversas leis de blasfêmia no país e aliviar as tensões.
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