É como uma disputa dentro de outra: enquanto os socorristas lentamente tentavam alcançar os mineiros presos, igrejas rivais discutiam sobre o milagre em andamento. Sacerdotes das igrejas evangélica, adventista e católica estão lutando para colocar um carimbo de sua própria fé nessa onda de fervor religioso enquanto esse drama se aproxima do fim no deserto chileno de Atacama.
Cada uma das três denominações cristãs reivindicam o crédito pelo que dizem ser a intervenção divina na sobrevivência – e resgate iminente – dos 33 homens que passaram 67 dias debaixo da terra. .
“Deus falou comigo claramente e guiou minha mão a cada passo do resgate”, disse Carlos Parra Díaz, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. “Ele quis que os mineiros fossem salvos e eu sou Seu instrumento.” Distante alguns metros dali, Caspar Quintana, bispo católico de Copiapó, preparava um altar para celebrar uma missa para parentes de mineiros e uma coleção de câmeras de TV. “Deus ouviu as nossas preces”, disse ele. “Recebi mensagens de encorajamento vindas de todo o mundo. Vamos agradecer.” Um pouco mais acima no acampamento, Javier Soto, um pastor evangélico, ia de família em família tocando em seu violão cânticos religiosos. “Ele ouve a nossa música”, disse, gesticulando na direção ao céu azul.
Cada igreja tem informado um aumento de sua fé, tanto no Chile como em outros lugares, fazendo vigílias à luz de velas e com transmissões on-line para o mundo todo após cada etapa de preparação para a retirada dos mineiros, um de cada vez, na cápsula batizada de Fênix.
Vestido de preto, Diaz, homem de 42 anos e comportamento intenso, disse ter sido o primeiro sacerdote a chegar na mina. Ele afirmou que não foi coincidência o fato de a sonda de exploração ter alcançado os homens aprisionados – 17 dias após o colapso da mina, dia 5 de agosto – enquanto ele orava na superfície.
“A primeira sonda não chegou até deles, eles a ouviram que ela foi na direção errada, e pensaram que estavam condenados, que iriam todos morrer de fome. Mas a segunda sonda foi direto até eles.”
Díaz mobilizou colegas na capital Santiago para conseguirem mini-Bíblias, com 7 cm de largura, para que coubessem nos “pombos”, tubos que levavam suprimentos aos homens soterrrados. (veja AQUI) Ele enviou uma para cada mineiro, merecendo uma carta de agradecimento de José Ojeda, o mestre de perfuração.
Nenhum dos mineiros é adventista, mas seis deles têm parentes que pertencem à essa igreja que acredita no iminente segunda vinda de Cristo.
Diaz levou uma certa vantagem sobre seus rivais, obtendo permissão para dar uma palestra de 10 minutos à 33 famílias reunidas antes do relatório da noite feito pelos funcionários do governo. “Eu faço um trabalho macro. Sou o pastor de todos.” As outras igrejas, disse ele, fizeram o trabalho “micro”.
O pastor disse que seu rival católico foi até o local enlameado e desolado apenas três ou quatro vezes. O bispo Quintana, depois de encerrar uma missa onde havia mais câmeras que fiéis, não quis se envolver nessa disputa de fé, mas disse que recebeu . “O importante é que Deus está agindo por meio da sabedoria humana para resgatar esses homens.”
Santuários para os mineiros, espalhados pelo local, são decorados com estátuas de santos e posteres de figuras religiosas, como o Papa João Paulo II.
Alguns membros do grupo “Los 33″ que não eram religiosos antes do acidente, como Franklin Lobos, que encontrou a fé durante a provação, disseram os membros de sua família. Quando a mina desabou, a poeira tomou conta dos túneis, apagando as luzes. Mas o que parecia ser uma “borboleta branca” levou-o até o local de refúgio e segurança, disse seu irmão, Manuel Lobos.
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