ÁFRICA DO SUL – O líder da maior denominação sul-africana se diz ferido e atormentado pela onda de ataques a estrangeiros (chamados de ataques xenófobos) na África do Sul que acabaram com a vida de, pelo menos, 50 pessoas, causando uma reviravolta em uma nação que se orgulhava de sua tolerância pós-apartheid, segundo reportagem do site “Christian Today”.
“Como sul-africano, estou realmente envergonhado, entristecido e angustiado com os acontecimentos recentes em meu país”, disse o reverendo Mvume Dandala.
Ele é pastor metodista e secretário-geral da União das Igrejas Africanas (em inglês, All Africa Conference of Church – AACC), organização com base em Nairóbi, e responsável por uma mediação na época da reconciliação que seguiu o apartheid na década de 1990.
O site “Christian Today” informa que “a violência começou em Johanesburgo no início de maio e se espalhou por várias partes do país, incluindo a Cidade do Cabo, onde quadrilhas atacaram somalianos e zimbabuenses, saqueando suas casas e lojas”.
“Os alvos são principalmente os imigrantes e refugiados de outros países africanos, incluindo o Zimbábue, cujo fracasso econômico fez com que mais de dois milhões de pessoas buscassem refúgio na África do Sul. A mídia relata que os imigrantes são acusados de roubarem empregos de sul-africanos.”
O reverendo acredita que os acontecimentos na África do Sul podem estar mais ligados a uma competição por recursos, que são escassos, do que a um antagonismo contra os estrangeiros e em especial os moçambicanos, quenianos ou zimbabuenses.
Desigualdade social
“Vejo os acontecimentos na África do Sul como mais um desafio do continente para vencer a divisão”, disse o reverendo Mvume em uma reunião internacional no Nairóbi para ajuda efetiva à África, ocorrida entre 21 e 23 de maio.
Um colunista do “Pretoria News”, jornal sul-africano, escreveu em 24 de maio que “há quatro anos, o arcebispo emérito, Desmond Tutu, causou uma avalanche de indignação quando expressou o medo que sentia em relação à situação que via se desenvolver na África do Sul como resultado do crescente abismo entre ricos e pobres. “Estamos sentados em um barril de pólvora”, disse na ocasião.
“Será que não estamos construindo um ressentimento do qual vamos nos arrepender mais tarde?”, perguntou o arcebispo em seu discurso no Memorial Nelson Mandela, em 2004. “Muitas pessoas em nossa nação, pessoas demais, vivem em um nível de pobreza desumano, humilhante, degradante. Estamos sentando em um barril de pólvora.”
O colunista relembra as palavras de Desmond Tutu e prossegue: “O big bang pode ter acabado de acontecer. Precisou de apenas duas semanas para que 50 pessoas fossem mortas, 15 mil desalojadas e que imagens sanguinolentas e aterrorizantes de vítimas sendo queimadas aparecessem em toda imprensa internacional.”
Alguns sul-africanos que falaram ao “Ecumenical News International”, em Nairóbi, mas preferiram manter o anonimato, acusaram os partidários de Jacob Zuma, líder do Congresso Nacional Africano (ACN, em inglês), partido que governa o país, de provocar a violência.
Igrejas atuantes
As igrejas na África do Sul têm estado na frente dos esforços para encontrar abrigo e refúgio para as vítimas dos ataques xenófobos. “Muitas pessoas estão lutando muito para que aqueles que estão sendo perseguidos, se sintam em casa. De todos os lados chegam pessoas oferecendo ajuda”, disse Robert Steiner, ministro da Igreja Unida em Rodenbosch, subúrbio da Cidade do Cabo, que recebeu mais de 100 pessoas de origem somali em apenas um dia.
“Depois de algumas horas, sem que a imprensa fizesse nenhum comunicado, através de email e mensagens de textos, os membros da igreja e diversas pessoas, trouxeram comida, cobertores e colchões”, conta o site “Christian Today”.
Na manhã seguinte, os refugiados foram levados pela polícia para um lugar seguro na Base Aérea Youngsfield, vários quilômetros distante da confusão. Mais tarde, no mesmo dia, a mesma igreja recebeu mais 120 somalianos que buscavam refúgio, e espera-se que mais pessoas cheguem nos próximos dias.
Robert Steiner citou o mandamento de Deus para seu povo que está no livro de Levítico (19:33-34).: “Quando um estrangeiro viver na terra de vocês, não o maltratem. O estrangeiro residente que viver com vocês deverá ser tratado como natural da terra.”
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