Em entrevista a BBC o pastor Ed René Kivitz se mostrou preocupado com o tom bélico de alguns líderes evangélicos brasileiros. No momento atual do país, esse discurso tem criado uma imagem dos evangélicos que não condiz com o que realmente somos.
Kivitz se preocupa com os casos de intolerância como o ocorrido na semana passada com a pequena Kailane Campos, 11 anos, no Rio de Janeiro. Mas ele entende que foram casos isolados que não correspondem com a índole cristã.
“Eu acho que é algo isolado, mas preocupante também para a imagem da Igreja Evangélica, que está sofrendo muito por conta dessas lideranças radicais que estão construindo no imaginário da sociedade brasileira uma ideia do ser evangélico que não corresponde à grande parcela da nossa população que se identifica como evangélica”, disse o pastor da Igreja Batista da Água Branca.
Ao mesmo tempo em que entende que foram casos isolados, Kivitz se mostra preocupado com o discurso de alguns líderes midiáticos que apresentando falas de “nós contra eles”, se posicionando de forma direta a alguns grupos sociais.
“Quando você encontra uma liderança com este discurso, você cria um ambiente propício para que gente doente, ignorante, mal esclarecida e mal resolvida dê vazão aos seus impulsos de violência, de rejeição ao próximo, aos seus ímpetos de prepotência, à sua ambição e sede de poder, à sua personalidade opressiva.”
Porém, ele afirma que não são os líderes religiosos que incitam o ódio, pois seria “um tiro no pé”, mas por outro lado Ed René Kivitz compreende que o discurso bélico no lugar de um discurso de reconciliação pode criar um ambiente de manifestações violentas.
Questões políticas
Na mesma entrevista Kivitz comenta sobre a política, defendendo a democracia e sendo contra qualquer controle hegemônico. “Você não pode permitir que a bancada evangélica seja hegemônica no Congresso, da mesma forma que você não pode permitir que a bancada do PT seja hegemônica. Nós não queremos um país governado por um grupo, por uma cultura ou por uma crença. Nós não queremos um país controlado por uma maioria muçulmana, mas também não queremos um país governado por uma maioria evangélica.”
Ao falar sobre a bancada evangélica, Kivitz se posiciona dizendo que quando um evangélico conquista um cargo político ele deve deixar de ser evangélico para se tornar um defensor da cidadania. “Claro que ele tem todos os seus valores, convicções religiosas e opções ideológicas, mas ele não está lá para defender a cabeça dele, nem o segmento da sociedade que o colocou lá”, afirmou o pastor batista.
“Quando você tem uma sociedade em que um grupo pretende tomar de assalto a voz de todos e impor a sua agenda sobre todos, isso não é uma sociedade democrática, mas sim uma ditadura conquistada no voto. Então a gente tem que bater forte em todo grupo que se pretenda hegemônico, seja ele político, religioso, ou qual for. Inclusive a militância LGBT, que tem que compreender que tem seus direitos, e quem não concorda com ela também tem seus direitos, isso é democracia.”
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