Considerado um dos maiores traficantes de armas e munição do país e chamado de “Senhor das armas” pela polícia, Valdenício Antunes Barbosa, 42 anos, se apresentou à Justiça do Rio na tarde de terça-feira (30). Também conhecido pelos apelidos de Val ou João Grandão, ele disse à juíza Renata Gil de Alcântara Videira que se converteu à religião evangélica e que agora ganha a vida como pastor.
Na próxima semana ele será intimado a depor na Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae). Foi o titular da especializada, o delegado Carlos Oliveira, que pediu a prisão de João Grandão decretada em junho deste ano. Na época, através de interceptações telefônicas, a polícia descobriu que o contrabandista e nove cúmplices planejavam comprar um avião para transportar armas e munição para os traficantes do estado. Os dez são acusados de tráfico de drogas, comércio ilegal de armas e munição e formação de quadrilha.
Em uma das gravações, Val é citado numa conversa entre o traficante Robson André da Silva, o Robinho Pinga, na época em liberdade, e um homem que seria seu braço direito. De acordo com a denúncia feita pelo promotor Sauvei Lai, o avião, que custaria R$ 240 mil, seria para contrabandear armas do Paraguai para o interior de São Paulo. O carregamento seguiria depois para os morros do Rio em carros pela Rodovia Presidente Dutra. Robinho era o maior traficante de drogas da Zona Oeste do Rio.
No depoimento à juíza, João Grandão negou ter intermediado a compra do avião e qualquer envolvimento com Robinho Pinga. Admitiu, no entanto, que no ano de 2002 residia em Foz do Iguaçu, quando conheceu o traficante Paulo César Silva dos Santos, o Linho, para quem “executava serviços relativos ao tráfico de entorpecentes e tráfico de armas; e que tanto as armas quanto o entorpecente eram trazidos do Paraguai”.
Val diz que ganha R$ 2,5 mil como missionário
Ele afirmou ainda que trabalhou para Linho por “ganância” durante dez meses até ser preso em 2002, quando cumpriu pena por três anos. Val afirmou que não vendia armas, mas intermediava os negócios. Disse ainda que sua casa fica a dez minutos do Paraguai e que já trabalhou como motorista de turistas, atravessando a fronteira pelo menos quatro vezes por dia.
Val alegou que vive de uma empresa de “fundo de quintal” de nome Eros, da sua função de pastor e da venda do CD que sua mulher gravou nas igrejas do Ministério Missionário. Ele contou também que só veio ao Rio para se entregar à Justiça. Declarou que seus rendimentos são de R$ 2,5 mil e que há um ano e meio vem recebendo essa quantia como missionário.
De acordo com as investigações da polícia, a quadrilha de Val contabilizava um lucro de R$ 80 mil por semana. Em 2002, depois de vários meses de investigações, policiais federais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) do Rio prenderam o contrabandista na Rodovia Presidente Dutra, transportando quatro mil projéteis calibre 762. Com ele foi detido também o sargento da PM Luiz Carlos Azevedo. Val foi condenado pela Justiça Federal a dez anos de prisão em regime fechado e cumpriu um terço da pena. Em 2005, conseguiu liberdade condicional para ser cumprida no Paraná, sua terra natal.
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