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Autoridades egípcias mantêm cristãos presos sem acusação formal

O Egito mantém sete cristãos detidos sem acusações em Alexandria, desde que um ataque à faca em igrejas, iniciou dois dias de violência em abril passado.

Desiludidos com a aparente inércia do governo, os cristãos de Alexandria planejam apelar ao Ministério do Interior pela liberdade desses homens, e também pela compensação das lojas e igrejas ortodoxas dos cristãos, que foram danificadas durante o conflito.

Hesham Azmy Iskender, um dos sete cristãos que ainda está sob a custódia da polícia, foi detido enquanto ia do trabalho para casa em uma tarde de sábado, 15 de abril.

O caminho de Hesham o levou exatamente para a Rua 45 de Alexandria, na qual um funeral acompanhado por centenas de cristãos era cercado pela polícia de choque.

A polícia deteve a procissão em frente à Igreja São Maximus e Domadius, mas permitiu a entrada do caixão do cristão Noshe Atta Girgis, que havia morrido a facadas na manhã anterior.

Como o motorista da van não quis entrar na Rua 45, Hesham saiu do veículo e continuou a pé, mas foi parado e colocado à força dentro de uma viatura da polícia, momentos depois, conforme seu irmão disse.

Prisão por tempo indeterminado

Hesham foi um dos 101 cristãos e muçulmanos detidos naquele fim de semana. Durante o mês seguinte, a polícia libertou a maioria dos prisioneiros, mas continuou renovando a prisão de Hesham e de outros seis cristãos, mesmo depois que o promotor público geral ordenou que todos os detidos fossem soltos em maio.

Sob a lei de emergência do Egito, os cidadãos podem ficar presos sem acusações para sempre, com sua detenção sendo renovada a cada 45 dias.

Os sete cristãos ficaram presos inicialmente por mais de um mês na delegacia de Montazah, onde foram "agredidos e mal-tratados", segundo informou a família de Hesham à agência de notícias Compass.

As condições eram especialmente difíceis para um dos presos, que se vingou de alguma forma quando a polícia o agrediu e insultou, disse um bispo copta ao Compass. "Ele bateu no policial de volta, quando foi agredido, e amaldiçoou o islamismo quando o policial amaldiçoou o cristianismo", disse o sacerdote, que pediu anonimato.

No dia 26 de maio, os homens foram transferidos para a cadeia de Gharabaniyat, subúrbio de Alexandria. "Elenão nos contou em detalhes como foi tratado, mas afirmou que prefere ficar na cadeia a voltar para a delegacia", um dos irmãos dele disse.

Os sete detidos foram libertados no dia 3 de agosto, mas foram presos novamente em seguida. Cinco deles, incluindo Hesham, foram mandados de volta para a delegacia de Montazah.

A família de Hesham deseja desesperadamente a sua libertação. Ele, que tem 22 anos, sustentava seus três irmãos cegos e o pai inválido.

"A visita semanalnos custa 240 libras egípcias (cerca de 90 reais)", disse o irmão de Hesham. "Gastamos pelo menos 200 libras em cigarros que Hesham usa para subornar os guardas da prisão, para eles o deixarem ir ao banheiro ou ter alguma coisa para beber."

O advogado de Hesham, Ahmed Abdel Fatah, disse que também representa os outros seis cristãos detidos.

Ahmed é um advogado muçulmano, e afirmou ter entrado em contato com seus clientes enquanto eles estavam na cadeia, mas ele não pôde informar ao Compass para quando foi marcada a próxima audiência do grupo. O advogado disse que a polícia de Alexandria também mantém na prisão outros sete muçulmanos relacionados ao incidente de abril.

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Copta renuncia em protesto

Os líderes de igrejas ficaram ainda mais desiludidos com as promessas do governo de investigar os eventos de abril depois que um comitê formado pelo parlamento do Egito não conseguiu apresentar um relatório sobre a violência.

Georgette Qellini, um membro copta da Assembléia Democrática, se demitiu do grupo de investigação de fatos no mês passado, em reação à recusa do comitê de visitar Alexandria.

Liderado pelo ex-porta voz da Assembléia Democrática, Zeinab Radwan, o comitê recebeu instruções para produzir um relatório sobre o incidente dentro de um mês. Três meses depois, com a Assembléia Democrática entrando em recesso em meados de julho, o grupo ainda tinha que visitar Alexandria e fazer um relatório.

"Depois de receber relatórios da Igreja Copta e da polícia, a comissão começou a discutir se era bom ir a Alexandria, pois talvez eles pudessem despertar sentimentosmais uma vez", disse ao Compass Youssef Sidhom, editor do semanário copta "Watani" (Minha Pátria). "Devido a essa maneira revoltante de trabalhar, um membro cristão do comitê se demitiu."

Ação legal

Com a esperança cada vez menor de ter os sete cristãos libertados, os cristãos de Alexandria começaram a discutir uma ação legal contra o Ministério do Interior do Egito.

"Achamos que o comitê do parlamento iria libertar os jovens presos e nos indenizar pelos danos causados às nossas lojas", declarou um líder da igreja Al-Quidissin. "Agora começamos a pensar sobre levarmos o assunto ao tribunal."

Ontem, Hesham e seus companheiros presos entraram em contato com o advogado cristão Mamdouh Nakhla e pediram-lhe para mover uma ação judicial pedindo sua libertação.

Esse advogado de direitos humanos copta disse ao Compass que também foi consultado sobre abrir outros dois casos contra o Ministério do Interior. Ele informou que os cristãos de Alexandria querem uma ação legal para compensar suas 40 lojas e três igrejas ortodoxas que foram danificadas pelos desordeiros muçulmanos. O advogado também disse que a família de Noshe (o cristão que estava sendo enterrado) também pensava em processar o governo por não julgar o assassino de seu pai.

Mahmoud Salahedin Abdul-Razik, cujos ataques a facadas em três igrejas deram início à violência em abril, foi declarado mentalmente instável por uma equipe de psiquiatras em julho e está recebendo tratamento no Hospital Psiquiátrico Abássida, no Cairo, disse o advogado Mamdouh.

A Câmera do Comércio de Alexandria restaurou o exterior da maioria das lojas, segundo informação do bispo copta Badaba Bikheet. Mas ele afirmou que o governo não fez nada para compensar os donos das lojas pelos saques realizados, enquanto a polícia ficava em pé, assistindo.
 
Ataques estimularam violência em abril

Al-Quidissin, no bairro Sidi Bishr de Alexandria, foi uma das três igrejas vítimas dos ataques de 14 de abril. Esses ataques com faca mataram uma pessoa e feriram mais de dez.

A polícia prendeu o agressor, Mahmoud Salahedin Abdul-Razik no mesmo dia, afirmando de imediato que ele era mentalmente instável. O rapaz de 25 anos possui diploma universitário.

Os líderes coptas duvidam que um único homem possa ter realizado todos os ataques em três igrejas diferentes, separadas por mais de 15 quilômetros. Eles também duvidam que o governo tenha verificado de forma tão rápida a instabilidade mental do homem.

No dia seguinte, 15 de abril, um funeral acompanhado por milhares de coptas foi interrompido pela polícia em frente à Igreja São Maximus e Domadius, enquanto estava na Rua 45. O padre Badaba Bikheet disse que acompanhou o evento por uma janela da igreja, no momento em que uma segunda fileira de policiais não deixou a multidão prosseguir.

"De repente, um grupo de uns 300 muçulmanos armados com grandes facas arrojou-se de uma rua lateral, do lado oposto da polícia", Badaba disse. "A polícia deixou a multidão cristã na frente da igreja das 16 às 18 horas, enquanto os muçulmanos destruíram mais de 40 lojas cristãs um pouco mais adiante, na rua."

Os desordeiros atacaram, mais tarde, a igreja São Jorge, na vizinhança, mas eles foram dispersos por um pequeno grupo de jovens cristãos, que atiraram garrafas contra eles, por trás dos portões da igreja, disse o bispo.

Os muçulmanos foram então para a Igreja Virgem Maria, na qual eles queimaram o escritório, a ante-sala usada para o batismo e os registros da igreja.

"Os homens chegaram lá às 20 horas, e saquearam a igreja até 1h30 da madrugada", Badaba disse. "Fizemos mais de 100 ligações para a polícia e para os bombeiros, mas a única reposta que tivemos foi: 'Quando pegar fogo, nós iremos lá'."

No dia seguinte, a polícia prendeu uma dúzia de jovens cristãos armados com facas e varas, que haviam se reunido em frente à igreja São Maximus e Domadius. Eles reagiram a um rumor de que a polícia e fundamentalistas muçulmanos planejavam atacar o prédio, disse Badaba.

Na noite daquele dia, uma multidão de 3 mil muçulmanos e cristãos marcharam pela paz em Asafra, onde a maior parte da violência aconteceu.

"Aquela não foi uma reconciliação real; a polícia forçou muitos dos 300 ."

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2006/08/noticia2869/


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