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A vida após o 11 de setembro

Cinco anos se passaram desde o atentado terrorista aos Estados Unidos que destruiu o World Trade Center e matou milhares de pessoas. Na entrevista a seguir, o Irmão André, fundador da Portas Abertas, fala sobre as mudanças que aconteceram no mundo desde então, reafirma a importância do perdão e do amor como agentes capazes de influenciar o mundo muçulmano e insiste em que a igreja precisa aprender o significado da vida sacrificial.

O dia 11 de setembro marca o 5º aniversário do ataque às Torres Gêmeas na cidade de Nova Iorque. Não parece que cinco anos se passaram, não é mesmo?

Irmão André: Não, não parece porque as coisas mudaram muito rapidamente. 

Foi um dia que ninguém irá esquecer.

Irmão André: Eu ainda lembro o que estava fazendo naquele dia e hora. Johan (Companjen, Presidente de Portas Abertas Internacional) veio à minha casa. Eu estava colado na televisão. Johan e eu gravamos não sei quantas horas de notícias sobre o ataque. Quando desastres como esse acontecem, as notícias se tornam repetitivas e perdem seu valor. Nós tivemos muitas guerras e ataques, tsunamis e terremotos, e ficamos quase imunes. Primeiro ocorreu um despertar (espiritual) e depois os americanos tentaram voltar a dormir. E o resto do mundo nem acordou.

O senhor não acha que houve um despertar?

Irmão André: Houve um despertar inicial, mas depois eles voltaram a dormir. Não houve um impacto real.
 
Sob seu ponto de vista, como as coisas mudaram desde 11/9?
 
Irmão André: Com o passar do tempo você muda sua opinião. Durante os dois primeiros anos após o 11/9, muitos americanos me perguntaram: "André, como o 11/9 mudou o mundo?" Minha resposta padrão era: "O 11/9 não mudou o mundo, ele mudou os Estados Unidos e a América está mudando o mundo". De certa forma, eu continuo mantendo esta resposta. Houve um impacto nos EUA, pois sua falsa sensação de segurança havia acabado.
 
Como o mundo muçulmano mudou?
 
Irmão André: Os países muçulmanos mudaram porque agora sentem que podem fazer algo. Eles sempre foram muito subjugados pelas forças do Ocidente. Nós nunca lhes demos uma chance de falar. Desde o fim da Segunda Guerra, nós tivemos duas superpotências, e dessa forma o mundo estava equilibrado. A União Soviética entrou em colapso e agora nós temos um perigo potencial ainda maior, uma única superpotência. Claro que agora temos a China, atrás das costas dos russos, tentando entrar no jogo. E eles têm poder econômico.
 
Com o islamismo temos uma nova situação demográfica: a França nunca teve tantos muçulmanos como agora, assim como a Holanda, os Estados Unidos e a Inglaterra. Nós não sabemos como acompanhar essa mudança. Espiritualmente a Igreja não está bem; falamos um pouco sobre reavivamento, mas não tenho visto avivamentos em nenhum lugar. Nós não falamos sobre reformas, que são muito necessárias. Não haverá reformas enquanto as pessoas forem levadas pelo vento, as igrejas forem fechadas e o número de membros diminuir, com uma mínima influência cristã.

Ao mesmo tempo, a influência dos muçulmanos está aumentando assim como sua força econômica, a força do petróleo. A sua forte presença está mudando o equilíbrio novamente e o resultado é a perda de nossa sensação de segurança, porque nós já não a temos mais. Esse é, no meu ponto de vista, o paralelo entre 11 de setembro e o mundo - todos nós estamos, de uma certa forma, na turbulência do 11 de setembro.
 

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Falando um pouco sobre perdão e milagres, como o senhor vê o exemplo da Igreja Perseguida, ensinando o Ocidente sobre o perdão? O senhor pensa que o Ocidente deveria estar pensando em perdoar os muçulmanos que aparentemente estão atacando?

Irmão André: Sim, tenho um grande capítulo sobre isso no meu novo livro. É a história de Shantinagar, uma comunidade cristã no Paquistão, destruída pelos muçulmanos. Nós nos pusemos de pé, explicitamente, cercados por muçulmanos, cristãos e líderes do governo, e então dissemos: "Perdoamos vocês, muçulmanos, pelo que têm feito a nós". O resultado: em um ano tínhamos um centro comunitário lá, um centro de alfabetização, uma clínica, tudo! Porque estávamos abertos e perdoamos, houve um novo começo para eles também. E foi um começo para a Portas Abertas, pois nunca havíamos estado naquela cidade antes, e agora estamos bem fortes lá. Então, vemos na prática o que o perdão pode fazer.

Em vez de um Deus de vingança, temos um Deus de perdão. Foi exatamente sobre isso que eu preguei na Casa Branca.
 
O senhor falou ao presidente Bush sobre isso? 
 
Irmão André:  Não, ele não estava lá, e nem a Secretária do Estado, Condoleezza Rice. Mas todos os outros estavam lá. Foi uma boa reunião e eu aproveitei muito. (risos)
 
O senhor acha que a Igreja Perseguida pode nos ensinar sobre o perdão?
 
Irmão André: Não haveria nenhum reavivamento na China hoje se eles tivessem se vingado contra o comunismo. Mas vemos na Revolução Cultural que os cristãos reagiram bem diferente, o que possibilitou o presente reavivamento que eles têm.
 
Vale o mesmo para os cristãos do mundo árabe?

Irmão André: Sim, se tiverem chance. Na verdade, lá existe uma igreja sem ensino, assim como na China. Mas existem exemplos tremendos no mundo muçulmano de pessoas que perdoaram e continuam o bom trabalho. Eu estive em várias igrejas que foram arrasadas, metade da congregação foi morta, e é impressionante como eles podem honrar e conquistar o respeito dos muçulmanos.
 
Sua famosa frase, "Eu amo sinceramente todos os muçulmanos" não mudou depois do 11 de setembro?
 
Irmão André: Nem um pouco. E é por isso que eu realmente quero ir cada vez mais fundo na situação muçulmana. Eu ainda quero entrar em contato pessoalmente com líderes e falar com eles sobre Jesus. Minha experiência: há seis meses, na escola islâmica mais perigosa, em que 90% dos alunos vão para o Talibã e para Al Qaida, eles me pediram para falar sobre Jesus. Então é possível alcançá-los.
 
Se você seguir o princípio da Portas Abertas, de que toda porta está aberta, e se é verdade que todo que é alcançável pode ser ganho, por que ficar parado? Na Portas Abertas e, como cristãos, nós proclamamos Cristo. Queremos pagar o preço, porque esse também foi o ponto de vista em 11 de setembro. O atentado nunca teria sido um sucesso se nenhum daqueles homens quisesse morrer. Nós precisamos ter a mesma atitude - isso não é jogar nossas vidas fora, mas aos olhos do mundo, certamente é. É uma questão de atitude, não de imprudência.
 
Vida sacrificial é uma arte que precisamos aprender. Uma vida cristã real é sacrificial e até agora eu ainda vejo o pensamento de "primeiro eu". Se não desistirmos de nossos direitos, de tudo que nós ou nossos pais conseguiram para nós, então como os muçulmanos irão testemunhar os direitos que Jesus nos dá? Mas eles nunca conhecerão o verdadeiro Jesus se eles olharem para nossa sociedade. Nossa sociedade não está refletindo - nem nossas igrejas - a vida de Jesus. Então nós temos que mudar! É isso que estou dizendo - nós precisamos mudar!

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/entrevistas/2006/09/noticia2948/


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