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Cristão turco incapacitado presta depoimento no tribunal

Juiz determina que seja feita perícia médica judicial na vítima de espancamento. Quatro meses depois que um turco convertido ao cristianismo entrou em coma devido a espancamento sofrido por estar distribuindo Novos Testamentos em sua cidade natal no noroeste da Turquia a vítima, aleijada, compareceu perante a corte no dia 12 último para identificar seus agressores ultranacionalistas.

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Yakup Cindilli conseguiu andar até o Tribunal de Orhangazi, arrastando-se devagar e apoiando-se num membro da família. Ele falou somente frases curtas com alguma dificuldade, numa voz arrastada.

Interrogado por um juiz da Corte Criminal de Orhangazi, Cindilli apontou três homens e disse que ele fora espancado no escritório local do Partido do Movimento Nacionalista (PMN) no dia 19 de outubro.

Todos os três homens identificados por Cindilli foram inicialmente presos sob acusações de agressão e lesão corporal alguns dias depois do ataque. Metin Yildiran, presidente do capítulo local do PMN, foi solto pela justiça um mês depois, enquanto os suspeitos Ibrahim Sekman e Huseyin Bektas foram mantidos na Prisão de Gemlik quase três meses, até 14 de janeiro.

De acordo com o relato do incidente feito por Cindilli, seu amigo Tufan Orhan foi chamado para fora da cafeteria onde eles estavam sentados juntos naquela manhã de domingo. Orhan voltou para dizer-lhe que alguns homens estavam pedindo que ele saísse para conversar com eles.

Cindilli disse que saiu e conversou com os homens, que lhe perguntaram se ele estava vendendo e distribuindo Novos Testamentos na cidade. Eu lhes disse: 'Sim, eu sou cristão, e distribuí alguns destes livros, mas nunca forcei ninguém a aceitá-los. Dei apenas às pessoas que quiseram' .

Então eles o levaram ao segundo andar do escritório do PMN, onde ele disse ter sido gravemente espancado. Quando o juiz perguntou se havia mais alguém presente, Cindilli disse que alguém chamado Kubilai estava lá, mas não sabia o seu sobrenome. Sob interrogatório, Yildiran admitiu que Kubilay Korumaz era um oficial do PMN local.

Cindilli segurou no braço da irmã para apoiar-se enquanto permanecia em pé perante o juiz, que permitiu que ele sentasse por várias vezes durante alguns minutos antes de chamá-lo de volta ao banco das testemunhas. Seu discurso era inarticulado e, por várias vezes rompia em risadas que ele parecia incapaz de controlar, apesar das duras advertências do juiz.

Esta é a situação dele agora, disse sua irmã à corte, dando de ombros tristemente depois do primeiro descontrole do irmão. Ele agia assim antes? perguntou o juiz. Não, antes ele era normal, respondeu ela.

Todos os três suspeitos negaram categoricamente as acusações de Cindilli. Em sua negativa, Yildiran disse ao juiz que o escritório do PMN estava fechado no momento do incidente. Ele alegou também que a única razão porque Cindilli os reconheceu no tribunal, foi porque todos eles tinham visitado Cindilli em sua casa exatamente na noite anterior.

De acordo com os dois advogados de defesa, o estado de Cindilli instável, mental e psicológico, o tornavam incapaz de prestar um depoimento confiável sobre o incidente. Um advogado disse que as declarações de Cindilli pareciam ter sido treinadas, representando as lembranças do que sua família havia-lhe dito, já que ele próprio não podia lembrar-se do que havia acontecido.

Em suas palavras finais, o promotor disse ao tribunal que achava a explicação da vítima sobre o incidente truncada. Observou que Cindilli insistia em que somente três suspeitos o haviam espancado, apesar de em seu relato inicial à polícia antes de entrar em coma, ter alegado que estavam presentes cinco pessoas durante a agressão.

O promotor concluiu que não havia fundamento legal suficiente para processar os suspeitos devido ao questionável estado mental do acusador.

Ao final da audiência de uma hora, o juiz presidente ordenou dois exames médicos minuciosos de Cindilli por peritos judiciais de Bursa, para determinar tanto seu estado físico e mental como psicológico. O juiz disse que os relatórios, que devem ser apresentados na próxima audiência marcada para o dia 25 de março, devem indicar se existe a expectativa da completa recuperação de seu estado atual.

O juiz ordenou também o comparecimento à audiência de março sobre o caso, do oficial do PMN, Kubilay Korumaz.

Ontem, enquanto esperava com sua família o início da audiência, Cindilli reconheceu vários conhecidos no corredor do tribunal. Ele conheceu pelo nome o pastor da Igreja Protestante de Bursa, cujos cultos ele ocasionalmente freqüentou.

Cindilli, 32, converteu-se ao cristianismo há dois anos depois de entrar em contato com um ministério por telefone feito por cristãos turcos. Sua família muçulmana, conservadora, opôs-se inflexivelmente à sua conversão. Apesar da família não ter recursos para contratar um advogado ou conseguir tratamento físico ou psicológico para ele, permanece relutante em permitir qualquer contato ou assistência de cristãos turcos.

Dois representantes da Associação dos Direitos Humanos de Bursa, bem como um punhado de jornalistas locais foram à quarta audiência sobre as acusações criminais contra os agressores de Cindilli. Exceto por pequenos jornais regionais, o caso não recebeu cobertura da imprensa na Turquia.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2004/02/noticia637/


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