Gostaria de compartilhar a história de um jovem de nome Sofian que encontrei em minha visita a Kampung Mulia.
Kampung Mulia está localizada numa das áreas de Banda Aceh mais destruídas pelo tsunami.
Além da devastação, cinco meses após a tragédia, a maioria das pessoas ainda está vivendo em tendas totalmente desgastadas, rasgadas e desbotadas.
As meninas que trabalham na nossa casa vivem lá e à noite havia chovido demais. Elas não vieram trabalhar naquela manhã, então queria checar e me assegurar que estavam bem.
Relato enviado pela equipe da AME.
Decidi tomar café no BiBi's, uma barraca de madeira e zinco usada na beira do rio.
Sofian, de 17 anos, o mais velho de 5 filhos, veio capengando com muletas e sentou-se na barraca de café ao meu lado. Pediu-me: Compre-me um becak (um táxi triciclo)".
Perguntei o que tinha acontecido com sua perna, sabendo que muito provavelmente o tsunami seria a causa. Ele passou a mão na barriga da perna e enfiou os dedos num buraco que havia ali. Pude ver através do tecido que metade da sua coxa não existia mais.
Pediu novamente: "Compre-me um becak", como se nada mais fosse importante. Sorri e não disse nada. Então ele começou a contar a sua história, sem demonstrar qualquer emoção, falando de forma bem fria:
Perdi toda a minha família, a minha mãe e todos os meus irmãos e irmãs. Estou só agora e não tenho mais ninguém, sou eu sozinho."
Ouço a mesma história de perda e sofrimento de tantas pessoas que já perdi a conta. De fato, só me surpreendo se encontro alguém de Aceh que nao tenha perdido algum membro da família no tsunami.
Sofian insistiu: "Compre-me um becak?" Ignorei seu último pedido, mas fiquei impressionada com sua aparente ausência de emoção. Pude perceber, porém, que era somente superficialmente. Por baixo da sua calma e atitude fria em relação ao que aconteceu, e por trás de seus pedidos insistentes por um becak, senti que havia algo diferente na tragédia do jovem.
BiBi entrou a essa altura e disse: "Ah, este é Sofian, que acabou de voltar do hospital em Medan, onde operaram a sua perna. Ele está sozinho, sem família, sem ninguém".
E continuou a falar, sem drama nem emoção: "Ele ficou preso debaixo de um barco e coberto sob as ruínas do tsunami com a perna presa. Ficou sob o lamaçal, cheio de cadáveres ao redor dele, sozinho, por 7 dias, até que finalmente alguém passou e o resgatou.
Levei alguns segundos até compreender realmente o que ela acabara de me contar. Olhei para Sofian e para BiBi e de volta para Sofian, tentando entender o que estava ouvindo.
Foi a história mais horrível que já ouvi desde que vim para cá, mas que foi contada de forma tão natural que parecia uma contradição, algo surreal.
Finalmente disse a Sofian: "Não posso nem imaginar o quanto deve ter sido terrível para você." Um rapaz bastante corajoso, porém confuso, olhou-me de volta. Então percebi o quanto era óbvio que ele estava traumatizado.
Calmamente ele respondeu: "Sim, foi terrível.Compre-me um becak?".
Eu lhe disse que se o que aconteceu com ele acontecesse comigo, eu não saberia o que sentiria, mas, que estava certa de que os 7 dias pareceriam uma vida inteira para mim e que eu teria muito medo.
Finalmente ele me olhou e uma expressão lampejou nos seus olhos, mas somente por uns segundos, e desapareceu. Disse-me num sussurro quase inaudível, como se não quisesse que as outras pessoas ouvissem: "Sim, lá havia cadáveres por todo lugar. Após 7 dias sem comida nem água e com a perna gravemente ferida, ele estava quase sem vida quando alguém, procurando restos entre as ruínas de madeiras e destroços, finalmente o encontrou. Ele foi levado de avião a Medan, onde ficou num hospital por 3 meses.
Perguntei o que ele queria fazer agora. Ele me contou que antes do tsunami ele era um motorista de becak. O seu becak foi levado pelas águas. E agora, tudo o que ele queria era um outro becak e pediu novamente: "Compre-me um becak". A essa altura todos começaram a rir dele dizendo para parar de me pedir para comprar um becak.
Eu gostaria de comprar um becak para Sofian, mas acho que ele ainda está emocionalmente muito traumatizado e não tenho certeza se isso é a melhor coisa para ele agora.
Vou encaminhá-lo a um conselheiro e quando ele estiver bem o suficiente, gostaria de ajudá-lo conseguir um becak. Sofian e milhares de outros aceneses perderam os seu meio de sobrevivência. Precisam de ajuda para reiniciar as suas vidas.
Amigos, juntem-se a mim em oração pelo Sofian, cuja história se destaca como a mais trágica dentre as milhares de histórias trágicas que ouvi desses memoráveis sobreviventes do tsunami.
Esse jovem passou por algo próximo a um inferno em vida mais do que qualquer um de nos chegaríamos a conhecer, e, após 7 dias, Deus o tirou dos destroços ainda vivo. A história de Sofian é uma história de milagre. Porém a luta pela sua vida ainda não terminou, está apenas começando.
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