A onda de indignação surgida entre os muçulmanos devido à publicação de charges envolvendo o profeta Maomé ressurgiu na sexta-feira, na Ásia, onde milhares de pessoas foram às ruas pelo quinto dia consecutivo no Paquistão e onde a polícia de Bangladesh entrou em confronto com manifestantes.
As várias semanas de protestos no mundo todo devido aos desenhos alimentaram temores de um choque de civilizações entre o Ocidente e o Islã. Representantes dos dois lados já realizaram apelos pedindo calma.
Acrescentando suas vozes à crise, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e o presidente da França, Jacques Chirac, disseram ter sido um erro publicar as charges, surgidas pela primeira vez em setembro, em um jornal dinamarquês, e depois republicadas em vários diários europeus.
Na sexta-feira, no Paquistão, onde cinco pessoas morreram na última onda de protestos, a polícia voltou a usar bombas de gás lacrimogêneo e prendeu 100 ativistas islâmicos.
Ao menos dez manifestantes foram detidos depois de terem bloqueado uma importante estrada ao norte da cidade de Karachi (sul) e atirarem pedras contra os carros.
Os protestos no Paquistão vêm sendo grandes e violentos, e muitos assumiram um tom claramente antiamericano. Os manifestantes, além de queimarem bandeiras da Dinamarca, atacaram unidades de lanchonetes dos EUA e queimaram imagens do presidente norte-americano, George W. Bush.
Clinton, em visita particular ao Paquistão, disse não ver nada de errado com os muçulmanos do mundo todo que se manifestam de forma pacífica, mas afirmou temer que estava sendo desperdiçada uma grande oportunidade para ampliar a compreensão entre o Islã e o Ocidente.
Este não é o momento de queimar pontes. É hora de construí-las, disse. Esta é uma oportunidade enorme, porque, na minha opinião, muitas pessoas estão assustadas com a possibilidade de haver um tal grau de incompreensão.
Horrorizado
Chirac foi mais direto.
Estou horrorizado com o que aconteceu como resultado da publicação dessas charges, afirmou o presidente francês ao Índia Today em entrevista divulgada na sexta-feira.
Sou, claro, favorável à liberdade de expressão, um dos pilares da democracia. Mas respeito igualmente as suscetibilidades de todos. De forma que lamento essa situação, afirmou Chirac, que visitará a Índia na próxima semana.
Na capital de Bangladesh, a polícia impediu milhares de manifestantes muçulmanos de cercar a embaixada dinamarquesa. Barricadas com arame farpado foram montadas nas ruas que levam às áreas de Daca onde há representações diplomáticas.
Os manifestantes, cerca de 10 mil, realizaram seu protesto em outras ruas da cidade, queimando bandeiras dinamarquesas e imagens do primeiro-ministro do país europeu, Anders Fogh Rasmussen, contaram testemunhas.
Na cidade de Hong Kong, predominantemente chinesa, cerca de 2.000 muçulmanos gritaram palavras de ordem e exibiram cartazes criticando os desenhos, um dos quais mostra Maomé usando um turbante em formato de bomba.
Essa foi a primeira passeata realizada por muçulmanos em Hong Kong em anos.
Na cidade indiana de Hyderabad, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar centenas de manifestantes que apedrejavam lojas e interrompiam o trânsito de veículos.
No Paquistão, mais protestos devem acontecer depois das orações de sexta-feira em Peshawar. Ao menos três pessoas morreram em manifestações ocorridas ali nesta semana.
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